Fotógrafos das antigas usam agora o equipamento somente para chamar a atenção dos clientes.
Rio - Os lambe-lambes se renderam à modernidade. Os poucos profissionais que ainda trabalham nas praças da Baixada Fluminense trocaram o tradicional equipamento fotográfico pelas digitais. Alguns ainda exibem as máquinas-caixote — geralmente revestidas com couro cru, madeira ou metal — para chamar a atenção dos clientes. As fotografias convencionais, no entanto, quase não são mais tiradas.
Em Nova Iguaçu, apenas na Praça Chopin, no Centro, o equipamento ainda é usado. De acordo com as irmãs Vauleide, 42, e Rosângela Rodrigues, 48, que trabalham juntas há 30 anos, dos 20 clientes que atendem por dia, pelo menos cinco ainda pedem para serem fotografados com a máquina-caixote.
Elas acreditam que esses clientes ainda preferem o lambe-lambe por causa da tradição e do charme de ser fotografado pela máquina antiga numa praça. “A procura foi caindo nos últimos anos, pois a maioria prefere as fotos digitais impressas em cinco minutos. Com a outra, demora em torno de 15”, conta Vauleide. O preço é o mesmo, em torno de R$ 6 a R$ 10, dependendo da quantidade.
Já o fotógrafo Altair Inácio, 63, que trabalha há quadro décadas na Praça João Padre Musch, também no Centro de Nova Iguaçu, deixou de usar a máquina há cinco anos. “Tive que me adaptar à modernidade. Lembro que as três principais praças de Nova Iguaçu viviam lotadas de fotógrafos e hoje estou solitário”, conta, com lágrimas nos olhos, Altair, que tira em média 30 fotos por dia.
Segundo ele, nas três praças na Avenida Marechal Floriano Peixoto — Liberdade, Chopin e Padre João Musch — havia pelo menos 20 lambe-lambes há 10 anos. Hoje, nos três locais, apenas quatro profissionais ainda sobrevivem do ramo. Dois deles aposentaram de vez sua máquina e usa apenas as digitais.
Altair, que aprendeu a técnica com seu pai, será o próximo a abandonar a carreira. Ele deve se aposentar no fim do ano por problemas de saúde. “Por respirar aquela química do revelador e fixador dentro tive problemas respiratórios. É uma pena, mas uma hora teria que encerrar a carreira”, disse, conformado.
Para que a tradição da família continue, Altair ensinou a arte ao sobrinho Walter Inácio, 52, que ficará em seu lugar na praça. “Vou passar o bastão e lembrar da profissão com amor”, conta.
Fã dos lambes-lambes, o autônomo Alcy Maihoni, 51, leva o filho Gabriel Gomes, 8, para tirar fotos na praça. “Meu pai fazia isso comigo. A foto na praça tem charme”, lembra.
FONTE: Íntegra da matéria do Jornal ODia de 17/05/2014
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